A terapia com protões permite concentrar a dose de radiação no tumor, reduzindo a dose nos tecidos saudáveis circundantes. É particularmente indicada no tratamento de tumores pediátricos e em localizações de difícil acesso cirúrgico ou próximas de órgãos sensíveis.

Protões vs. fotões

Robert R. Wilson foi o primeiro a propor o uso de feixes de protões para o tratamento do cancro. No artigo seminal “Radiological use of fast protons”, publicado em 1946, comparava as curvas de deposição de energia em função de profundidade de protões e outras partículas carregadas com as dos fotões.

Tanto a radioterapia convencional como a radioterapia com protões têm por base o facto de, ao provocar a ionização dos átomos, a radiação danificar moléculas fundamentais nas células, em particular o ADN, fazendo com que estas sejam destruídas ou percam, por exemplo, a capacidade de se dividir e multiplicar. A radioterapia utiliza fotões (em particular raios x), que depositam a maior parte da dose de radiação assim que entram no corpo do paciente, atingem depois o tumor, após o que continuam o seu percurso através dos tecidos.

Os feixes de protões, pelo contrário, começam por depositar lentamente a sua energia enquanto viajam pelo corpo, sendo esta subitamente depositada quando atingem o final do seu percurso. Assim, um feixe de protões de uma determinada energia depositará a maior parte da dose de radiação depois de atingir uma profundidade bem definida, que podemos ajustar à profundidade do tumor. A terapia com protões permite, pois, concentrar a dose de radiação no tumor, reduzindo a dose nos tecidos saudáveis circundantes, permitindo um tratamento mais eficaz e com menos efeitos secundários indesejáveis. É esta a grande vantagem da terapia com protões em relação à radioterapia convencional.

A terapia com protões é particularmente indicada no tratamento de tumores pediátricos, em que possíveis efeitos nefastos a longo prazo são particularmente preocupantes, e para tumores em localizações de difícil acesso cirúrgico, ou próximas de órgãos sensíveis. Casos paradigmáticos são os tumores na base do crânio, espinal medula, cérebro, olhos, próstata, pulmões, fígado, esófago, entre outros. Constitui, nalguns casos, o único tratamento viável.